sábado, 11 de agosto de 2012

Parte 2ª CAPÍTULO II DA ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS


PARTE 2ª
CAPÍTULO II
DA ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
1. Objetivo da encarnação. - 2. A alma. - 3. Materialismo.

Objetivo da encarnação
132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?
“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para
uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer
todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro
fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na
obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento,
de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de
vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se
adianta.”
A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na
Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de
se aproximar Dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia,
tudo é solidário na Natureza.
133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que, desde o princípio,
seguiram o caminho do bem?
“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da
vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos,
conseguintemente sem mérito.”
a) - Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso
não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?
“Chegam mais depressa ao fim. Demais, as aflições da vida são muitas vezes a
conseqüência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos
tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não
sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”
A alma
134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”
a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”
b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um
dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem
um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.”
135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o laço que liga a alma ao corpo.”
a) - De que natureza é esse laço?
“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso
que seja assim para que os dois se possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço
é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”
O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:
1º - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo
princípio vital;
2º - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;
3º - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de
primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o
perisperma e a casca.
136. A alma independe do princípio vital?
“O corpo não é mais do que envoltório, repetimo-lo constantemente.”
a) - Pode o corpo existir sem a alma?
“Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do
nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois
dessa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e
esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode
habitar um corpo privado de vida orgânica.”
b) - Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um
homem.”
137. Um Espírito pode encarnar a um tempo em dois corpos diferentes?
“Não, o Espírito é indivisível e não pode animar simultaneamente dois seres
distintos.” (Ver, em O Livro dos Médiuns, o capítulo VII, “Da bicorporeidade e da
transfiguração.”)
138. Que se deve pensar da opinião dos que consideram a alma o princípio da vida
material?
“É uma questão de palavras, com que nada temos. Começai por vos entenderdes
mutuamente.”
139. Alguns Espíritos e, antes deles, alguns filósofos definiram a alma como sendo:
“uma centelha anímica emanada do grande Todo”. Por que essa contradição?
“Não há contradição. Tudo depende das acepções das palavras. Por que não tendes
uma palavra para cada coisa?”
O vocábulo alma se emprega para exprimir coisas muito diferentes. Uns chamam
alma ao princípio da vida e, nesta acepção, se pode com acerto dizer, figuradamente, que a
alma é uma centelha anímica emanada do grande Todo. Estas últimas palavras indicam a
fonte universal do princípio vital de que cada ser absorve uma porção e que, após a morte,
volta à massa donde saiu. Essa idéia de nenhum modo exclui a de um ser moral, distinto,
independente da matéria e que conserva sua individualidade. A esse ser, igualmente, se dá o
nome de alma e nesta acepção é que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado.
Dando da alma definições diversas, os Espíritos falaram de acordo com o modo por que
aplicavam a palavra e com as idéias terrenas de que ainda estavam mais ou menos
imbuídos. Isto resulta da deficiência da linguagem humana, que não dispõe de uma palavra
para cada idéia, donde uma imensidade de equívocos e discussões. Eis por que os Espíritos
superiores nos dizem que primeiro nos entendamos acerca das palavras. (1)
140. Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos
são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?
“Ainda isto depende do sentido que se empreste à palavra alma. Se se entende por
alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espírito
encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos
órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se divida.”
a) - Entretanto, alguns Espíritos deram essa definição.
“Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa.”
___________
(1) Ver, na Introdução, a explicação sobre o termo alma, § II.

A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital,
que por eles se reparte, existindo em maior abundância nos que são centros ou focos de
movimento. Esta explicação, porém, não procede, desde que se considere a alma como
sendo o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da morte.
141. Há alguma coisa de verdadeiro na opinião dos que pretendem que a alma é
exterior ao corpo e o circunvolve?
“A alma não se acha encerrada no corpo, qual pássaro numa gaiola. Irradia e se
manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro, ou como o som em
torno de um centro de sonoridade. Neste sentido se pode dizer que ela é exterior, sem que
por isso constitua o envoltório do corpo. A alma tem dois invólucros. Um, sutil e leve: é o
primeiro, ao qual chamas perispírito, outro, grosseiro, material e pesado, o corpo. A alma é
o centro de todos os envoltórios, como o gérmen em um núcleo, já o temos dito.”
142. Que dizeis dessa outra teoria segundo a qual a alma, numa criança, se vai
completando a cada período da vida?
“O Espírito é uno e está todo na criança, como no adulto. Os órgãos, ou
instrumentos das manifestações da alma, é que se desenvolvem e completam. Ainda aí
tomam o efeito pela causa.”
143. Por que todos os Espíritos não definem do mesmo modo a alma?
“Os Espíritos não se acham todos esclarecidos igualmente sobre estes assuntos. Há
Espíritos de inteligência ainda limitada, que não compreendem as coisa abstratas. São como
as crianças entre vós. Também há Espíritos pseudo-sábios, que fazem alarde de palavras,
para se imporem, ainda como sucede entre vós. Depois, os próprios Espíritos esclarecidos
podem exprimir-se em termos diferentes, cujo valor, entretanto, é, substancialmente, o mesmo, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem se mostra impotente para traduzir com clareza. Recorrem então a figuras, a comparações, que tomais como realidade.”
144. Que se deve entender por alma do mundo?
“O princípio universal da vida e da inteligência, do qual nascem as individualidades.
Mas, os que se servem dessa expressão não se compreendem, as mais das vezes, uns aos
outros. O termo alma é tão elástico que cada um o interpreta ao sabor de suas fantasias.
Também a Terra hão atribuído uma alma. Por alma da Terra se deve entender o conjunto
dos Espíritos abnegados, que dirigem para o bem as vossas ações, quando os escutais, e
que, de certo modo, são os lugar-tenentes de Deus com relação ao vosso planeta.”
145. Como se explica que tantos filósofos antigos e modernos, durante tão longo
tempo, hajam discutido sobre a ciência psicológica e não tenham chegado ao
conhecimento da verdade?
“Esses homens eram precursores da eterna Doutrina Espírita. Prepararam os
caminhos. Eram homens e, como tais, se enganaram, tomando suas próprias idéias pela luz.
No entanto, mesmo os seus erros servem para realçar a verdade, mostrando o pró e o contra.
Demais, entre esses erros se encontram grandes verdades que um estudo comparativo torna
apreensíveis.”
146. A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
“Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais
particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles que
muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade.”
a) - Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
“Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo,
por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que
consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode,
todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para
as manifestações intelectuais e morais.”
Materialismo
147. Por que é que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam
a ciência da Natureza, são, com tanta freqüência, levados ao materialismo?
“O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e
não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência
que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar
oculto.”
148. Não é de lastimar que o materialismo seja uma conseqüência de estudos que
deveriam, contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa
o mundo? Deve-se daí concluir que são perigosos?
“Não é exato que o materialismo seja uma conseqüência desses estudos. O homem é
que deles tira uma conseqüência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo
das melhores coisas. Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que
parecesse, e os espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua
maioria, só são materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante
deles se abre. Mostrai-lhes uma âncora da salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.”
Por uma aberração da inteligência, pessoas há que só vêem nos seres orgânicos a
ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo humano apenas vêem a
máquina elétrica; somente pelo funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida,
cuja repetida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio.
Procuraram saber se alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se
tornara inerte, como não viram a alma escapar-se, como não a puderam apanhar, concluíram
que tudo se continha nas propriedades da matéria e que, portanto, à morte se seguia a
aniquilação do pensamento. Triste conseqüência, se fora real, porque então o bem e o mal
nada significariam, o homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima de tudo a
satisfação de seus apetites materiais; quebrados estariam os laços sociais e as mais santas
afeições se romperiam para sempre. Felizmente, longe estão de ser gerais semelhantes
idéias, que se podem mesmo ter por muito circunscritas, constituindo apenas opiniões
individuais, pois que em parte alguma ainda formaram doutrina.. Uma sociedade que se
fundasse sobre tais bases traria em si o gérmen de sua dissolução e seus membros se
entredevorariam como animais ferozes.
O homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a
vida. O nada lhe infunde horror. É em vão que se obstina contra a idéia da vida futura. Ao
soar o momento supremo, poucos são os que não inquirem do que vai ser deles, porque a
idéia de deixar a vida para sempre algo oferece de pungente. Quem, de fato, poderia encarar
com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor?
Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se
sepultassem para sempre todas as suas faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si
mesmo: Pois que! depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente
acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá acabado; mais alguns dias e a minha
lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio dentre
em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido
pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra
perspectiva, além da do meu corpo roído pelos vermes!
Não tem este quadro alguma coisa de horrível, de glacial? A religião ensina que não
pode ser assim e a razão no-lo confirma. Mas, uma existência futura, vaga e indefinida não
apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida.
Possuímos alma, está bem; mas, que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer?
É um ser limitado, ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus, outros uma centelha, outros uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que de tudo isto ficamos sabendo? Que nos importa ter uma alma, se, extinguindo-se-nos a vida, ela desaparece na imensidade,
como as gotas d’água no Oceano? A perda da nossa individualidade não eqüivale, para nós,
ao nada? Diz-se também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial carece de
proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. A religião ainda nos ensina que
seremos felizes ou desgraçados, conforme ao bem ou ao mal que houvermos feito. Que vem
a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma
contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As
chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última
significação; mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde esse lugar do suplício? Numa
palavra, que é o que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera?
Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações.
É erro dizê-lo e a missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer
acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o
penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém, pelos fatos. Graças às
comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de uma probabilidade
sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou
cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece, pois que são
os próprios seres de além-túmulo que nos vêm escrever a situação em que se acham, relatar
o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer a todas as peripécias da nova vida que
lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de
acordo com os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de anti-religioso?
Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do
fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí
está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se
revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário