sábado, 11 de agosto de 2012

PARTE 2ª CAPÍTULO III DA VOLTA DO ESPÍRITO, EXTINTA A VIDA CORPÓREA, À VIDA ESPIRITUAL


CAPÍTULO III
DA VOLTA DO ESPÍRITO, EXTINTA A VIDA
CORPÓREA, À VIDA ESPIRITUAL
1. A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna. - 2. Separação da alma e do
corpo. - 3. Perturbação espiritual.
A alma após a morte
149. Que sucede à alma no instante da morte?
“Volta a ser Espírito, esto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara
momentaneamente.”
150. A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”
a) - Como comprova a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo
material?
“Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e
que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.”
b) - A alma nada leva consigo deste mundo?
“Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança
cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. Quanto mais pura for,
melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.”
151. Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo
universal?
“O conjunto dos Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo?
Quando estás numa assembléia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas
sempre a tua individualidade.”
152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?
“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos,
veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala,
reveladora da existência de um ser que está fora de vós.”
Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro,
se supõem que, semelhante à gota d’água que cai no Oceano, ela perde ali a sua
individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres
incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.
Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto,
nada as distinguiria uma das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais
quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e
vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a
conseqüência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só
houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo
seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam
idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes,
felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e
ponderados, etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais
evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis
particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres, Também não
pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da
alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de
certo modo, material.
153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?
“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o
corpo morre, a alma retoma a vida eterna.”
a) Não seria mais exato chamar vida eterna à dos Espíritos puros, dos que, tendo
atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?
“Essa é antes a felicidade eterna. Mas isto constitui uma questão de palavras.
Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.”
Separação da alma e do corpo
154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?
“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte;
a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no
instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.”
Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em conseqüência da
idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.
155. Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.”
a) - A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma
linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a
que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de
sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se
desatam, não se quebram.”
Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial
ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que
do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no
instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao
contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os
indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou
menos o da libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida toda material e sensual, o
desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o
que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida,
mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a
preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional
conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais
penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos
pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de
modo que, em chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos
em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas
observações ainda provam que a afinidade, persiste entre a alma e o corpo, em certos
indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da
decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a
certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.
156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação
completa da vida orgânica?
“Na agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida
orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um
sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe,
enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”
157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase
que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?
“Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo.
Entrega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da
matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de
Espírito.”
158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se
encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma
existência brilhante, pode dar-nos idéia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da
nossa nova existência?
“Uma idéia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da
letra, como freqüentemente vos sucede.”
159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no
mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticasse o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro
momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se
passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que
não teme nenhum olhar perscrutador.”
160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que
morreram antes dele?
“Sim, conforme à afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas
vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam
a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e
perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os
encarnados e os vai visitar.”
161. Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda se não
enfraqueceram em conseqüência
da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem
simultaneamente?
“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia
entre uma e outra.”
162. Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a
consciência de si mesmo?
“Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha
extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz
perder aquela consciência antes do momento do suplício.”
Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e
por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do
suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente
com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente
separado do corpo. Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não
resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes são os laços que prendem o corpo
ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo.
Perturbação espiritual
163. A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?
“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de
perturbação.”
164. A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau
e da mesma duração para todos os Espíritos?
“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece
quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo,
enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”
165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração,
mais ou menos longa, da perturbação?
“Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a
sua situação. Mas, a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência
exercem.”
Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma
para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma
pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez
das idéias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da
matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe
obscurece os pensamentos.
Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de
algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde
quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são
os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em
que se encontram.
Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres
dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por
suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido,
espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto,
vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache
separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas
não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do
perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais
ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela
morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda
a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o
primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpálo.
Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não
crêem dormir. É que têm sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como
pensam livremente e vêem, julgam naturalmente que não dormem. Certos Espíritos revelam
essa particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente.
Todavia, sempre mais generalizada se apresenta entre os que, embora doentes, não
pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu
próprio enterramento como se fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que
lhe não diz respeito, até ao momento em que compreende a verdade.
A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que
se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranqüilo
despertar. Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de
ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra.
Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem ao
mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à
morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.

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