PARTE 3ª
CAPÍTULO VIII
DA LEI DO PROGRESSO
1. Estado de natureza. - 2. Marcha do progresso. - 3. Povos degenerados. - 4. Civilização. -5. Progresso da legislação humana. - 6. Influência do Espiritismo no progresso.
Estado da natureza
776. Serão coisas idênticas o estado de natureza e a lei natural?“Não, o estado de natureza é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o
estado de natureza, ao passo que a lei natural contribui para o progresso da Humanidade.”
O estado de natureza é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu
desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu
aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza,
como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele estado é transitório para o homem,
que dele sai por virtude do progresso e da civilização. A lei natural, ao contrário, rege a
Humanidade inteira e o homem se melhora à medida que melhor a compreende e pratica.
777. Tendo o homem, no estado de natureza, menos necessidades, isento se acha
das tribulações que para si mesmo cria, quando num estado de maior adiantamento.
Diante disso, que se deve pensar da opinião dos que consideram aquele estado como o da mais perfeita felicidade na Terra?
“Que queres! É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem outra. É ser
feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes do que os homens feitos.”
778. Pode o homem retrogradar para o estado de natureza?
“Não, o homem tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de
infância. Desde que progride, é porque Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à
sua primitiva condição fora negar a lei do progresso.”
Marcha do progresso
779. A força para progredir, haure-a o homem em si mesmo, ou o progresso éapenas fruto de um ensinamento?
“O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem
simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o
progresso dos outros, por meio do contacto social.”
780. O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual?
“Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente.” (192-365)
a) - Como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?
“Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O
desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a
responsabilidade dos atos.”
b) - Como é, nesse caso, que, muitas vezes, sucede serem os povos mais instruídos
os mais pervertidos também?
“O progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos,
só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode
mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. O moral e a
inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se.” (365-751)
781. Tem o homem o poder de paralisar a marcha do progresso?
“Não, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la.”
a) - Que se deve pensar dos que tentam deter a marcha do progresso e fazer que a
Humanidade retrograde?
“Pobres seres, que Deus castigará! Serão levados de roldão pela torrente que
procuram deter.”
Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem
opor-se-lhe. É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis
humanas más. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente
com os que se esforcem por mantê-las. Assim será, até que o homem tenha posto suas leis
em concordância com a justiça divina, que quer que todos participem do bem e não a
vigência de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco.
782. Não há homens que de boa-fé obstam ao progresso, acreditando favorecê-lo,
porque, do ponto de vista em que se colocam, o vêem onde ele não existe?
“Assemelham-se a pequeninas pedras que, colocadas debaixo da roda de uma
grande viatura, não a impedem de avançar.”
783. Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade?
“Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um
povo não progride tão depressa quanto devera, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um
abalo físico ou moral que o transforma.”
O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de
atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As
revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas idéias pouco a pouco;
germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento
do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades
novas e com as novas aspirações.
Nessas comoções, o homem quase nunca percebe senão a desordem e a confusão
momentâneas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o
pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que
do mal faz sair o bem. São a procela, a tempestade que saneiam a atmosfera, depois de a
terem agitado violentamente.
784. Bastante grande é a perversidade do homem. Não parece que, pelo menos do
ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?
“Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o homem se adianta, pois que
melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o
mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas.”
785. Qual o maior obstáculo ao progresso?
“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se
efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a
atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu
turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que
tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer
o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o
homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma
felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura.” (Vide: Egoísmo, cap. XII.)
Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que,
no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os
povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por
isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para
que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de
hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo
assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao
moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o
vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto
século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da
perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência
desmente.
Povos degenerados
786. Mostra-nos a História que muitos povos, depois de abalos que os revolveramprofundamente, recaíram na barbaria. Onde, neste caso, o progresso?
“Quando tua casa ameaça ruína, mandas demoli-la e constróis outra mais sólida e
mais cômoda. Mas, enquanto esta não se apronta, há perturbação e confusão na tua morada.
“Compreende mais o seguinte: eras pobre e habitavas um casebre; tornando-te rico,
deixaste-o para habitar um palácio. Então, um pobre diabo, como eras antes, vem tomar o
lugar que ocupavas e fica muito contente, porque estava sem ter onde se abrigar. Pois bem!
Aprende que os Espíritos que, encarnados, constituem o povo degenerado não são os que o
constituíam ao tempo do seu esplendor. Os de então, tendo-se adiantado, passaram para
habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto os outros, menos adiantados, tomaram o
lugar que ficara vago e que também, a seu turno, terão um dia que deixar.”
787. Não há raças rebeldes, por sua natureza, ao progresso?
“Há, mas vão aniquilando-se corporalmente, todos os dias.”
a) - Qual será a sorte futura das almas que animam essas raças?
“Chegarão, como todas as demais, à perfeição, passando por outras existências.
Deus a ninguém deserda.”
b) - Assim, pode dar-se que os homens mais civilizados tenham sido selvagens e
antropófagos?
“Tu mesmo o foste mais de uma vez, antes de seres o que és.”
788. Os povos são individualidades coletivas que como os indivíduos, passam pela
infância, pela idade da madureza e pela decrepitude. Esta verdade, que a História
comprova, não será de molde a fazer supor que os povos mais adiantados deste século
terão seu declínio e sua extinção, como os da antigüidade?
“Os povos, que apenas vivem a vida do corpo, aqueles cuja grandeza unicamente
assenta na força e na extensão territorial, nascem, crescem e morrem, porque a força de um
povo se exaure, como a de um homem. Aqueles, cujas leis egoísticas obstam ao progresso
das luzes e da caridade, morrem, porque a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo.
Mas, para os povos, como para os indivíduos, há a vida da alma. Aqueles, cujas leis se
harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e servirão de farol aos outros povos.”
789. O progresso fará que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos,
formando uma só nação?
“Uma nação única, não; seria impossível, visto que da diversidade dos climas se
originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades, tornando
indispensáveis sempre leis apropriadas a esses costumes e necessidades. A caridade, porém,
desconhece latitudes e não distingue a cor dos homens. Quando, por toda parte, a lei de
Deus servir de base à lei humana, os povos praticarão entre si a caridade, como os
indivíduos. Então,
viverão felizes e em paz, porque nenhum cuidará de causar dano ao seu vizinho, nem de
viver a expensas dele.”
A Humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e
instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros.
De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão um impulso; vêm
depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos fazem-na
adiantar-se de muitos séculos.
O progresso dos povos também realça a justiça da reencarnação. Louváveis esforços
empregam os homens de bem para conseguir que uma nação se adiante, moral e
intelectualmente. Transformada, a nação será mais ditosa neste mundo e no outro, concebese.
Mas, durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem
todos os dias. Qual a sorte de todos os que sucumbem ao longo do trajeto? Privá-los-á, a
sua relativa inferioridade da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também
relativa será a felicidade que lhes cabe? Não é possível que a justiça divina haja consagrado
semelhante injustiça. Com a pluralidade das existências, é igual para todos o direito à
felicidade, porque ninguém fica privado do progresso. Podendo, os que viveram ao tempo
da barbaria, voltar, na época da civilização, a viver no seio do mesmo povo, ou de outro, é
claro que todos tiram proveito da marcha ascensional.
Outra dificuldade, no entanto, apresenta aqui o sistema da unicidade das existências.
Segundo este sistema, a alma é criada no momento em que nasce o ser humano. Então, se
um homem é mais adiantado do que outro, é que Deus criou para ele uma alma mais
adiantada. Por que esse favor? Que merecimento tem esse homem, que não viveu mais do
que outro, que talvez haja vivido menos, para ser dotado de uma alma superior? Esta,
porém, não é a dificuldade principal. Se os homens vivessem um milênio, conceber-se-ia
que, nesse período milenar, tivessem tempo de progredir. Mas, diariamente morrem
criaturas em todas as idades; incessantemente se renovam na face do planeta, de tal sorte
que todos os dias aparece uma multidão delas e outra desaparece. Ao cabo de mil anos, já
não há naquela nação vestígio de seus antigos habitantes. Contudo, de bárbara, que era, ela
se tornou policiada. Que foi o que progrediu? Foram os indivíduos outrora bárbaros? Mas,
esses morreram há muito tempo. Teriam sido os recém-chegados? Mas, se suas
almas foram criadas no momento em que eles nasceram, essas almas não existiam na época
da barbaria e forçoso será então admitir-se que os esforços que se despendem para civilizar
um povo têm o poder, não de melhorar almas imperfeitas, porém de fazer que Deus crie
almas mais perfeitas.
Comparemos esta teoria do progresso com a que os Espíritos apresentaram. As
almas vindas no tempo da civilização tiveram sua infância, como todas as outras, mas já
tinham vivido antes e vêm adiantadas por efeito do progresso realizado anteriormente. Vêm
atraídas por meio que lhes é simpático e que se acha em relação com o estado em que
atualmente se encontram. De sorte que, os cuidados dispensados à civilização de um povo
não têm como conseqüência fazer que, de futuro, se criem almas mais perfeitas; têm sim, o
de atrair as que já progrediram, quer tenham vivido no seio do povo que se figura, ao tempo
da sua barbaria, quer venham de outra parte. Aqui se nos depara igualmente a chave do
progresso da Humanidade inteira. Quando todos os povos estiverem no mesmo nível, no
tocante ao sentimento do bem, a Terra será ponto de reunião exclusivamente de bons
Espíritos, que viverão fraternalmente unidos. Os maus, sentindo-se aí repelidos e
deslocados, irão procurar, em mundos inferiores, o meio que lhes convém, até que sejam
dignos de volver ao nosso, então transformado. Da teoria vulgar ainda resulta que os
trabalhos de melhoria social só às gerações presentes e futuras aproveitam, sendo de
resultados nulos para as gerações passadas, que cometeram o erro de vir muito cedo e que
ficam sendo o que podem ser, sobrecarregadas com o peso de seus atos de barbaria.
Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente às
gerações pretéritas, que voltam a viver em melhores condições e podem assim aperfeiçoarse
no foco da civilização. (222)
Civilização
790. É um progresso a civilização ou, como o entendem alguns filósofos, umadecadência da Humanidade?
“Progresso incompleto. O homem não passa subitamente da infância à madureza.”
a) - Será racional condenar-se a civilização?
“Condenai antes os que dela abusam e não a obra de Deus.”
791. Apurar-se-á algum dia a civilização, de modo a fazer que desapareçam os
males que haja produzido?
“Sim, quando o moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência. O fruto não
pode surgir antes da flor.”
792. Por que não efetua a civilização, imediatamente, todo o bem que poderia
produzir?
“Porque os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo.”
a) - Não será também porque, criando novas necessidades, suscita paixões novas?
“É, e ainda porque não progridem simultaneamente todas as faculdades do Espírito.
Tempo é preciso para tudo. De uma civilização incompleta não podeis esperar frutos
perfeitos.” (751-780)
793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?
“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados,
porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos
alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito
de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a
desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis
apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.”
A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização
incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no
estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural,
necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se
aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o
progresso moral.
De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode
considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela onde exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; onde a
inteligência se puder desenvolver com maior liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé,
benevolência e generosidade recíprocas; onde menos enraizados se mostrem os
preconceitos de casta e de nascimento, por isso que tais preconceitos são incompatíveis com
o verdadeiro amor do próximo; onde as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as
mesmas, assim para o último, como para o primeiro; onde com menos parcialidade se
exerça a justiça; onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; onde a vida do
homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; onde exista menor número
de desgraçados; enfim, onde todo homem de boa-vontade esteja certo de lhe não faltar o
necessário.
Progresso da legislação humana
794. Poderia a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concursodas leis humanas?
“Poderia, se todos as compreendessem bem. Se os homens as quisessem praticar,
elas bastariam. A sociedade, porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias leis
especiais.”
795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
“Nas épocas de barbaria, são os mais fortes, que fazem as leis e eles as fizeram para
si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se
tornou a modificação delas. Quanto mais se aproximam da vera justiça, tanto menos
instáveis são as leis humanas, isto é, tanto mais estáveis se vão tornando, conforme vão
sendo feitas para todos e se identificam com a lei natural.”
A civilização criou necessidades novas para o homem, necessidades relativas à
posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os
direitos e deveres dessa posição. Mas, influenciado pelas suas paixões, ele não raro há
criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam de
seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva. Na infância das sociedades, só esta pode consagrar o direito do mais forte.
796. No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma
necessidade?
“Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas
leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a
educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas.”
797. Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis?
“Isso ocorre naturalmente, pela força mesma das coisas e da influência das pessoas
que o guiam na senda do progresso. Muitas já ele reformou e muitas outras reformará.
Espera!”
Influência do Espiritismo no progresso
798. O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, comocrença, apenas por algumas pessoas?
“Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da
humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os
conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o
interesse, do que contra a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de
pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras por causas inteiramente
materiais. Porém, como virão a ficar insulados, seus contraditores se sentirão forçados a
pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos.”
As idéias só com o tempo se transformam; nunca de súbito. De geração em geração,
elas se enfraquecem e acabam por desaparecer, paulatinamente, com os que as professavam,
os quais vêm a ser substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como sucede com as idéias políticas. Vede o paganismo. Não há hoje mais quem professe as idéias religiosas dos tempos pagãos.
Todavia, muitos séculos após o advento do Cristianismo, delas ainda restavam vestígios,
que somente a completa renovação das raças conseguiu apagar. Assim será com o
Espiritismo. Ele progride muito; mas, durante duas ou três gerações, ainda haverá um
fermento de incredulidade, que unicamente o tempo aniquilará. Sua marcha, porém, será
mais célere que a do Cristianismo, porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o
caminho e serve de apoio. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que
edificar.
799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?
“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os
homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida
futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente,
lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos
homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.”
800. Não será de temer que o Espiritismo não consiga triunfar da negligência dos
homens e do seu apego às coisas materiais?
“Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa
transformar como que por encanto. As idéias só pouco a pouco se modificam, conforme os
indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os
vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e
progressivamente, se pode operar. Para cada geração uma parte do véu se dissipa. O
Espiritismo vem rasgá-lo de alto a baixo. Entretanto, conseguisse ele unicamente corrigir
num homem um único defeito que fosse e já o haveria forçado a dar um passo. Ter-lhe-ia
feito, só com isso, grande bem, pois esse primeiro passo lhe facilitará os outros.”
801. Por que não ensinaram os Espíritos, em todos os tempos, o que ensinam hoje?
“Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um
alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas
que os homens não compreenderam ou adulteraram, mas que podem compreender agora.
Com seus ensinos, embora incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que
vai frutificar.”
802. Visto que o Espiritismo tem que marcar um progresso da Humanidade, por
que não apressam os Espíritos esse progresso, por meio de manifestações tão
generalizadas e patentes, que a convicção penetre até nos mais incrédulos?
“Desejaríeis milagres; mas Deus os espalha a mancheias diante dos vossos passos e,
no entanto, ainda há homens que o negam. Conseguiu, porventura, o próprio Cristo
convencer os seus contemporâneos, mediante os prodígios que operou? Não conheceis
presentemente alguns que negam os fatos mais patentes, ocorridos às suas vistas? Não há os
que dizem que não acreditariam, mesmo que vissem? Não; não é por meio de prodígios que
Deus quer encaminhar os homens. Em Sua bondade, Ele lhes deixa o mérito de se
convencerem pela razão.”
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