sábado, 11 de agosto de 2012

PARTE 3ª CAPÍTULO II - Da lei de adoração


CAPÍTULO II
DA LEI DE ADORAÇÃO
1. Objetivo da adoração. - 2. Adoração exterior. - 3. Vida contemplativa. - 4. A prece. - 5.
Panteísmo. - 6. Sacrifícios.

Objetivo da adoração
649. Em que consiste a adoração?
“Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua
alma.”
650. Origina-se de um sentimento inato a adoração, ou é fruto de ensino?
“Sentimento inato, como o da existência de Deus. A consciência da sua fraqueza
leva o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger.”
651. Terá havido povos destituídos de todo sentimento de adoração?
“Não, que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem que acima de tudo há
um Ente Supremo.”
652. Poder-se-á considerar a lei natural como fonte originária da adoração?
“A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por
essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes.”

Adoração exterior
653. Precisa de manifestações exteriores a adoração?
“A adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre
de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar.”
a) - Será útil a adoração exterior?
“Sim, se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas,
os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a
aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam.”
654. Tem Deus preferência pelos que O adoram desta ou daquela maneira?
“Deus prefere os que O adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o
bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-Lo com cerimônias que os não tornam
melhores para com os seus semelhantes.
“Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a Si todos os que lhe
obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam.
“É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo
aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.
“Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa
adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem,
ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é
cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto.
E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis;
se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão.
“Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque
eqüivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que
noutro. Ainda uma vez vos digo: até Ele não chegam os cânticos, senão quando passam
pela porta do coração.”
655. Merece censura aquele que pratica uma religião em que não crê do fundo
dalma, fazendo-o apenas pelo respeito humano e para não escandalizar os que pensam de
modo diverso?
“Nisto, como em muitas outras coisas, a intenção constitui a regra. Não procede mal
aquele que, assim fazendo, só tenha em vista respeitar as crenças de outrem. Procede
melhor do que um que as ridicularize, porque, então, falta à caridade. Aquele, porém, que a
pratique por interesse e por ambição se torna desprezível aos olhos de Deus e dos homens.
A Deus não podem agradar os que fingem humilhar-se diante Dele tão-somente para
granjear o aplauso dos homens.”
656. À adoração individual será preferível a adoração em comum?
“Reunidos pele comunhão dos pensamentos e dos sentimentos, mais força têm os
homens para atrair a si os bons Espíritos. O mesmo se dá quando se reúnem para adorar a
Deus. Não creias, todavia, que menos valiosa seja a adoração particular, pois que cada um
pode adorar a Deus pensando Nele.”
Vida contemplativa
657. Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa,
uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam?
“Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem
e são inúteis. Demais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense Nele,
mas não quer que só Nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem
passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de
Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à Humanidade e Deus lhe pedirá contas do
bem que não houver feito.” (640)

A Prece
658. Agrada a Deus a prece?
“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a
intenção é tudo. Assim, preferível Lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que
seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-Lhe a prece, quando dita
com fé, com fervor e sinceridade. Mas, não creias que O toque a do homem fútil, orgulhoso
e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de
verdadeira humildade.”
659. Qual o caráter geral da prece?
“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é
pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece:
louvar, pedir, agradecer.”
660. A prece torna melhor o homem?
“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as
tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que
jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”
a) - Como é que certas pessoas, que oram muito, são, não obstante, de mau caráter,
ciosas, invejosas, impertinentes, carentes de benevolência e de indulgência e até, algumas
vezes, viciosas?
“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas supõem que todo o
mérito está na longura da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Fazem da
prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca, porém, um estudo de si mesmas. A
ineficácia, em tais casos, não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.”
661. Poderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas?
“Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aquele que a
Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder. As boas ações são a
melhor prece, por isso que os atos valem mais que as palavras.”
662. Pode-se, com utilidade, orar por outrem?
“O Espírito de quem ora atua pela sua vontade de praticar o bem. Atrai a si,
mediante a prece, os bons Espíritos e estes se associam ao bem que deseje fazer.”
O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação que alcança muito
além dos limites da nossa esfera corporal. A prece que façamos por outrem é um ato dessa
vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar, em auxílio daquele por quem oramos, os
bons Espíritos, que lhe virão sugerir bons pensamentos e dar a força de que necessitem seu
corpo e sua alma. Mas, ainda aqui, a prece do coração é tudo, a dos lábios nada vale.
663. Podem as preces, que por nós mesmos fizermos, mudar a natureza das nossas
provas e desviar-lhes o curso?
“As vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas há que têm de ser suportadas
até ao fim; mas, Deus sempre leva em conta a resignação. A prece traz para junto de vós os
bons Espíritos e, dando-vos estes a força de suportá-las corajosamente, menos rudes elas
vos parecem. Hemos dito que a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque fortalece
aquele que ora, o que já constitui grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará,
bem o sabes. Demais, não é possível que Deus mude a ordem da Natureza ao sabor de cada
um, porquanto o que, do vosso ponto de vista mesquinho e do da vossa vida efêmera, vos
parece um grande mal é quase sempre um grande bem na ordem geral do Universo. Além
disso, de quantos males não se constitui o homem o próprio autor, pela sua imprevidência
ou pelas suas faltas? Ele é punido naquilo em que pecou. Todavia, as súplicas justas são
atendidas mais vezes do que supondes. Julgais, de ordinário, que Deus não vos ouviu, porque não fez a vosso favor um milagre, enquanto que vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do acaso ou da força das coisas. Muitas vezes também, as mais das vezes mesmo, ele vos sugere a idéia que vos fará
sair da dificuldade pelo vosso próprio esforço.”
664. Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, neste caso,
como lhes podem as nossas preces proporcionar alívio e abreviar os sofrimentos? Têm elas
o poder de abrandar a justiça de Deus?
“A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem
se ora experimenta alívio, porque recebe assim um testemunho do interesse que inspira
àquele que por ela pede e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando
encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Por outro lado, mediante a
prece, aquele que ora concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é
necessário para ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode abreviar a pena, se, por sua parte,
ele secunda a prece com a boa-vontade. O desejo de melhorar-se, despertado pela prece,
atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos melhores, que o vão esclarecer, consolar e
dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse modo, que
culpados vos tornaríeis, se não fizésseis o mesmo pelos que mais necessitam das vossas
preces.”
665. Que se deve pensar da opinião dos que rejeitam a prece em favor dos mortos,
por não se achar prescrita no Evangelho?
“Aos homens disse o Cristo: Amai-vos uns aos outros. Esta recomendação contém a
de empregar o homem todos os meios possíveis para testemunhar aos outros homens
afeição, sem haver entrado em minúcias quanto à maneira de atingir ele esse fim. Se é certo
que nada pode fazer que o Criador, imagem da justiça perfeita, deixe de aplicá-la a todas as
ações do Espírito, não menos certo é que a prece que lhe dirigis por aquele que vos inspira afeição constitui, para este, um testemunho de que dele vos lembrais, testemunho que forçosamente contribuirá para lhe
suavizar os sofrimentos e consolá-lo. Desde que ele manifeste o mais ligeiro
arrependimento, mas só então, é socorrido. Nunca, porém, será deixado na ignorância de
que uma alma simpática com ele se ocupou. Ao contrário, será deixado na doce crença de
que a intercessão dessa alma lhe foi útil. Daí resulta necessariamente, de sua parte, um
sentimento de gratidão e afeto pelo que lhe deu essa prova de amizade ou de piedade. Em
conseqüência, crescerá num e noutro, reciprocamente, o amor que o Cristo recomendava
aos homens. Ambos, pois, se fizeram assim obedientes à lei de amor e de união de todos os
seres, lei divina, de que resultará a unidade, objetivo e finalidade do Espírito.”(1)
666. Pode-se orar aos Espíritos?
“Pode-se orar aos bons Espíritos, como sendo os mensageiros de Deus e os
executores de Suas vontades. O poder deles, porém, está em relação com a superioridade
que tenham alcançado e dimana sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja permissão
nada se faz. Eis por que as preces que se lhes dirigem só são eficazes, se bem aceitas por
Deus.”

Politeísmo
667. Por que razão, não obstante ser falsa, a crença politeísta é uma das mais
antigas e espalhadas?
“A concepção de um Deus único não poderia existir no homem, senão como
resultado do desenvolvimento de suas idéias. Incapaz, pela sua ignorância, de conceber um
ser imaterial, sem forma determinada, atuando sobre a matéria, conferiu-Lhe o homem
atributos da natureza corpórea, isto é, uma forma e um aspecto e, desde então,tudo o que parecia ultrapassar os limites da inteligência comum era, para ele, uma
divindade. Tudo o que não compreendia devia ser obra de uma potência sobrenatural. Daí a
crer em tantas potências distintas quantos os efeitos que observava, não havia mais que um
passo. Em todos os tempos, porém, houve homens instruídos, que compreenderam ser
impossível a existência desses poderes múltiplos a governarem o mundo, sem uma direção
superior, e que, em conseqüência, se elevaram à concepção de um Deus único.”
_______________
(1) Resposta dada pelo Sr. Monod (Espírito), pastor protestante em Paris, morto
em abril de 1856. A resposta anterior, n° 664, é do Espírito São Luís.

668. Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos desde as primeiras
idades do mundo, não haverão os fenômenos espíritas contribuído para a difusão da
crença na pluralidade dos deuses?
“Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens
tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu
gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos
demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto.” (603)
A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como
presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica,
que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as
manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência
da Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente o de
Espíritos. Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na ignorância em que se
achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos
e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas
como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos
atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço,
todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado
físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e
os papéis que desempenham nas coisas da Terra.
Vindo iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir
uma coisa que está na Natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida.
Quanto aos Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos, sob diversos
nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de
maneiras diferentes e muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a
religião essas manifestações eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram
embustes. Hoje, mercê de um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo,
escoimado das idéias supersticiosas que o ensombraram durante séculos, nos revela um dos
maiores e mais sublimes princípios da Natureza.

Sacrifícios
669. Remonta à mais alta antigüidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se
explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Principalmente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade.
Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do
animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral, ainda não
se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem
ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material.
Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De
conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era
proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais, se
houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor
quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser,
com relação a Deus, entre homens ignorantes.”
a) - De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não pode haver a menor dúvida.”
b) - Então, de acordo com a explicação que vindes de dar, não foi de um sentimento
de crueldade que se originaram os sacrifícios humanos?
“Não; originaram-se de uma idéia errônea quanto à maneira de agradar a Deus.
Considerai o que se deu com Abraão. Com o correr dos tempos, os homens entraram a
abusar dessas práticas, imolando seus inimigos comuns, até mesmo seus inimigos
particulares. Deus, entretanto, nunca exigiu sacrifícios, nem de homens, nem, sequer, de
animais. Não há como imaginar-se que se Lhe possa prestar culto, mediante a destruição
inútil de Suas criaturas.”
670. Dar-se-á que alguma vez possam ter sido agradáveis a Deus os sacrifícios
humanos praticados com piedosa intenção?
“Não, nunca. Deus, porém, julga pela intenção. Sendo ignorantes os homens, natural
era que supusessem praticar ato louvável imolando seus semelhantes. Nesses casos, Deus
atentava unicamente na idéia que presidia ao ato e não neste. À proporção que se foram
melhorando, os homens tiveram que reconhecer o erro em que laboravam e que reprovar
tais sacrifícios, com que não podiam conformar-se as idéias de Espíritos esclarecidos. Digo
- esclarecidos, porque os Espíritos tinham então a envolvê-los o véu material; mas, por
meio do livre-arbítrio, possível lhes era vislumbrar suas origens e fim, e muitos, por
intuição, já compreendiam o mal que praticavam, se bem que nem por isso deixassem de
praticá-lo, para satisfazer às suas paixões.”
671. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que impele
os povos fanáticos, tendo em vista agradar a Deus, a exterminarem o mais possível os que
não partilham de suas crenças, poderá equiparar-se, quanto à origem, ao sentimento que
os excitava outrora a sacrificarem seus semelhantes?
“São impelidos pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra aos seus semelhantes,
contravêm à vontade de Deus, que manda ame cada um o seu irmão, como a si mesmo. Todas as religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Por que
então há de um fazer guerra a outro, sob o fundamento de ser a religião deste diferente da
sua, ou por não ter ainda atingido o grau de progresso da dos povos cultos? Se são
desculpáveis os povos de não crerem na palavra daquele que o Espírito de Deus animava e
que Deus enviou, sobretudo os que não o viram e não lhe testemunharam os atos, como
pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando lhes ides levá-la de espada em
punho? Eles têm que ser esclarecidos e devemos esforçar-nos por fazê-los conhecer a
doutrina do Salvador, mediante a persuasão e com brandura, nunca a ferro e fogo. Em vossa
maioria, não acreditais nas comunicações que temos com certos mortais; como quereríeis
que estranhos acreditassem na vossa palavra, quando desmentis com os atos a doutrina que
pregais?”
672. A oferenda feita a Deus, de frutos da terra, tinha a Seus olhos mais mérito do
que o sacrifício dos animais?
“Já vos respondi, declarando que Deus julga segundo a intenção e que para Ele
pouca importância tinha o fato. Mais agradável evidentemente era a Deus que Lhe
oferecessem frutos da terra, em vez do sangue das vítimas. Como temos dito e sempre
repetiremos, a prece proferida do fundo da alma é cem vezes mais agradável a Deus do que
todas as oferendas que lhe possais fazer. Repito que a intenção é tudo, que o fato nada
vale.”
673. Não seria um meio de tornar essas oferendas agradáveis a Deus consagrá-las
a minorar os sofrimentos daqueles a quem falta o necessário e, neste caso, o sacrifício dos
animais, praticado com fim útil, não se tornaria meritório, ao passo que era abusivo
quando para nada servia, ou só aproveitava aos que de nada precisavam? Não haveria
qualquer coisa de verdadeiramente piedoso em consagrar-se aos pobres as primícias dos
bens que Deus nos concede na Terra?
“Deus abençoa sempre os que fazem o bem. O melhor meio de honrá-Lo consiste
em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos. Não quero dizer com isto que Ele
desaprove as cerimônias que praticais para lhe dirigirdes as vossas preces. Muito dinheiro,
porém, aí se gasta que poderia ser empregado mais utilmente do que o é. Deus ama a
simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades e não ao coração é um
Espírito de vistas acanhadas. Dizei, em consciência, se Deus deve atender mais à forma do
que ao fundo.”

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